Hassan Fereydoon Rouhani, de 64 anos,
foi eleito presidente do Irã em junho deste ano ─ o único clérigo a concorrer à
presidência. Seu slogan de campanha era "moderação e sabedoria".
Rohani recebe a posse
das mãos do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Jamenei, neste sábado, e
prestará seu juramento diante do Parlamento no domingo. Segundo veículos
estatais, mais de 100 chefes de Governo e de Estado já confirmaram presença,
como representantes do Paquistão, Afeganistão, Armênia, Tajiquistão e de países
latino-americanos. Suas promessas de
reforma, de trabalhar para aliviar sanções, de ajudar a libertar prisioneiros
políticos, de garantir os direitos civis e um retorno da "dignidade para a
nação" atraíram multidões enquanto ele realizava seus comícios. Os debates
televisivos também lhe serviram como plataforma para criticar a direção
escolhida pelo Irã em assuntos polêmicos, como a indiferença em relação a seu
programa nuclear, as sanções internacionais, o estado precário da economia e o
extremo isolamento do Irã na comunidade internacional. Suas críticas ressoaram
em muitos eleitores. O apoio dos ex-presidentes Mohammad Khatami e Hashemi
Rafsanjani ajudaram a assegurar a
vitória de Rouhani e elevaram as expectativas sobre como será seu
governo. No pleito, o reformista teve 50,7% dos votos, levando a eleição ainda
no primeiro turno. A confirmação de Rouhani pelo Conselho dos Guardiães da
Constituição, um corpo formado por 12 membros que decide quais candidatos
seriam elegíveis, foi igualmente acirrada.
'Sheik
diplomata'
Hossein Mousavian, um
ex-diplomata iraniano que atuou na equipe de negociação nuclear comandada por
Rouhani, acredita que ele faz jus a seu apelido – 'sheik diplomata' – em alusão
à sua reputação como chefe de negociação do programa nuclear do Irã. "Ele
tem um ótimo senso de humor", afirmou Mousavian à BBC. "Ele vem de
uma linha completamente moderada e centrista. Ele sempre tentou unificar o
país". Alguns, entretanto, ainda não se convenceram do projeto de poder de
Rouhani. Seyed Mojtaba Vahedi é um deles. Ele é um ex-conselheiro de Mehdi
Karroubi, um dos candidatos reformistas nas eleições de 2009 que cumpre pena em
domicílio por criticar o resultado do pleito.
"Não acredito
que ele seja um moderado; ele é muito próximo dos chamados 'linha-dura'",
afirmou Vahedi. "Ele é próximo do Khamenei (líder supremo do Irã). Rouhani
não conseguirá solucionar o problema relativo à questão nuclear. Ninguém pode
fazer nada sem a permissão do líder supremo."
Negociador.
Hassan
Rouhani tornou-se uma figura importante na vida política do Irã desde a
revolução de 1979 que transformou o país em uma república islâmica.
Durante a Guerra
Irã-Iraque, ele também teve um papel crucial. Rouhani já ocupou vários cargos
parlamentares, incluindo o de vice-porta-voz. O novo presidente do Irã também
já serviu o Conselho Supremo de Segurança Nacional, cujo objetivo é preservar a
Revolução Islâmica e assegurar a soberania do país. Até sua eleição, Rouhani passou
por importantes postos de segurança e da política, tornando-se uma figura
influente no processo de tomada de decisão do Irã em temas delicados, como a
segurança nacional e a política externa. O ex-chanceler britânico Jack Straw
lembra-se de tê-lo encontrado quando Rouhani ainda era negociador-chefe do
programa nuclear iraniano e diz ter ficado com uma boa impressão dele.
"Rouhani foi cortês, engajado, muito honesto e sempre sorrindo",
afirmou Straw à BBC.
"Ele era muito
bem informado e parecia ter a confiança da liderança iraniana",
acrescentou o ex-chanceler. O líder supremo do Irã demonstrou repetidamente
insatisfação com o que ele considerava ser uma abordagem conciliatória durante
as negociações. Naquela ocasião, o Irã estava negociando com os governos
britânico, alemão e francês e terminou concordando a suspender o programa de
enriquecimento de urânio e a permitir maiores inspeções da ONU em suas usinas
nucleares. "Rouhani estava claramente ansioso para chegar a um acordo
sobre o longevo conflito entre o Irã e o Ocidente", afirmou Straw. A
interrupção durou até a primeira semana de Mahmoud Ahmadinejad no poder, quando
Rouhani foi substituído por um de seus maiores críticos, Ali Larijani, que
acabou se desentendo com o próprio Ahmadinejad dois anos depois. Rouhani, por
outro lado, era um crítico voraz de seu agora antecessor, afirmando que as
declarações pouco cuidadosas e calculadas de Ahmadinejad custaram muito ao
país.
Desafio
Líder
supremo do país, o aiatolá Khamenei deu o aceite à vitória de Rouhani.
Durante a campanha
presidencial, Rouhani criticou duramente a reação policial ante a uma
manifestação de estudantes pró-reforma em 1999. No entanto, tal atitude
contrastava com a própria crítica que ele havia feito dos mesmos estudantes
naquela ocasião ─ o que levou muitos dissidentes a permanecerem céticos em
relação às suas credenciais reformistas. Rouhani descreveu o resultado das
eleições presidenciais como uma "vitória da moderação sobre o
extremismo". Seu sucesso deveu-se parcialmente a outro candidato
reformista, Mohammad Reza Aref, que desistiu da corrida a favor de Rouhani
depois que correligionários pediram a ambos que formassem uma coalizão. Nos
dias anteriores à sua posse, Rouhani ficou mergulhado em conversas intensas com
o líder supremo sobre as indicações para compor seus ministérios. Fontes
reformistas dizem que Rouhani não pôde indicar alguns de seus próprios nomes
para postos-chave – um sinal de que dias duros virão para um presidente que
representa mudança e reforma. Eles afirmam que membros da chamada
"linha-dura" inicialmente deram as boas-vindas à "escolha do
público", mas nas semanas anteriores à posse de Rouhani, alertaram-no para
evitar qualquer associação com os dissidentes envolvidos nas manifestações de
2009, quando milhares de iranianos foram às ruas protestar contra uma suposta
fraude nas eleições. Apesar de reformista, o moderado Rouhani vem se mantendo
cuidadosamente distante de tudo o que possa prejudicar o início do seu mandato.
Ele diz que não haverá "soluções do dia para noite" para o país, uma
vez que o Irã possui "muitos problemas".
Por: Marcio Eli Pereira
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